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Entenda por que Airbags NÃO disparam em todos os acidentes — um estudo de caso técnico

  • fbfariaeng
  • 30 de out.
  • 5 min de leitura
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Análise técnica e didática de um acidente real envolvendo colisão lateral oblíqua seguida de capotamento — por que os Airbags de cortina e frontais não acionaram e o que isso significa para segurança veicular.


Este artigo traz um estudo de caso técnico — preservando anonimato das partes — para explicar, com clareza e fundamento, por que nem todo acidente produz a deflagração dos airbags.


O objetivo é informar colegas, clientes e leitores do blog sobre critérios de acionamento SRS, dinâmica de colisões oblíquas e capotamentos, e as lições práticas para proteção de ocupantes.


1 — Resumo executivo (para quem quer a conclusão agora)


Em um acidente real analisado (colisão lateral oblíqua seguida de um tripped rollover, com duração total aproximada de 4–5 s), os airbags frontais, laterais e de cortina não deflagraram. Com base na documentação disponível (fotos, laudos e simulações informais realizadas por especialista externo), concluímos que:


·         os sensores e o módulo SRS não registraram o pulso físico (alto pico de aceleração em curto intervalo) exigido para dispersão dos infladores;

·         a sequência de eventos gerou pulsos longos e distribuídos no tempo, filtrados por desenho dos algoritmos;

·         não há evidência fática robusta de falha elétrica ou adulteração do sistema que justificasse o não-disparo.


Em linguagem direta: o sistema funcionou conforme projetado para aquele tipo específico de evento.


2 — Por que isso importa (mito comum)


Muitas pessoas esperam que airbags disparem em qualquer batida séria. Não é assim. Airbags são suplementares ao cinto e projetados para atuar em janelas muito curtas — milissegundos — quando um pulso de aceleração atinge um padrão que indica risco grave de lesão. Disparar em eventos indevidos aumenta risco e reduz eficácia; por isso os fabricantes calibram algoritmos para evitar falsos positivos.


3 — Breve teoria prática sobre SRS (o que o leitor precisa entender)


·         O que dispara um airbag?


O módulo SRS (ACU/ECU) avalia sinais de múltiplos sensores (aceleração linear, sensores laterais, giroscópios). A decisão exige combinação de magnitude e forma temporal do pulso (dv/dt). Geralmente, um pico curto e intenso (< ~50 ms) associado a ΔV significativo ativa o comando de deploy.


·         Airbags frontais vs laterais/cortina


o    Frontais respondem a desacelerações frontais rápidas (limiares aproximados variam por projeto; tipicamente ΔV relevantes na casa dos 12–18 km/h ou mais para deploy em muitos cenários).

o    Laterais/cortina monitoram impactos laterais e taxas de rolagem; cortinas também consideram roll-rate (°/s) e podem ter condicionantes adicionais para evitar disparos em rollovers que não representem risco de intrusão de cabeça.


·         Dupla verificação (plausibilidade)Modernos algoritmos exigem confirmação por mais de um parâmetro (ex.: aceleração + tempo do pulso, ou aceleração + rotação angular). Isto mitiga deploys indevidos (buracos, pancadas leves, objetos rasantes).


4 — Descrição do evento (resumida e anônima)


·         Tipo de veículo: pickup média (anônimo).


·         Dinâmica conforme laudo e fotos: contato lateral oblíquo / raspagem na região traseira/coluna lateral, seguido por um giro no eixo longitudinal (tombamento) que resultou em veículo invertido e arraste por alguns metros.


·         Duração total aproximada: 4–5 segundos da sequência inicial até a imobilização.


·         Observações: ausência de intrusão significativa imediata no habitáculo; airbags visivelmente não deflagrados nas fotos.


5 — Análise técnica (por que os airbags não dispararam)


5.1 Perfil do pulso físico


O primeiro contato (raspagem) produziu energia transferida de forma tangencial, sem criar o pico de aceleração curto e intenso que caracteriza “impacto seco”. Em vez disso, a aceleração é distribuída ao longo do tempo durante a rotação — padrão que os módulos tendem a filtrar.


5.2 Direção do vetor e localização do sensor


Os sensores são calibrados para detectar vetores específicos. Um impacto oblíquo que não gere intrusão direta na região de cabeça/tronco pode não ativar sensores laterais/curtain que esperam um pulso localizado.


5.3 Tempo e janela de ativação


Airbags precisam inflar muito rapidamente (milésimos de segundo). Se a energia principal do evento é dissipada em alguns segundos (capotamento lento), o pico crítico pode simplesmente não ocorrer no intervalo decisório do algoritmo.


5.4 Hipótese de dano elétrico no primeiro contato — avaliação


Tecnicamente possível: um impacto poderia danificar fiação ou o próprio módulo antes que o algoritmo avaliasse o evento subsequente. Contudo, dois pontos reduzem essa hipótese neste caso: (1) posição usual do módulo (protegida) e (2) ausência de indícios fotográficos de corte/queimadura de chicotes e de registros de falha (por exemplo, luz de airbag prévia). Assim, é possibilidade remota, não explicação preferencial.


6 — Riscos e benefícios caso os airbags tivessem deflagrado durante a sequência


·       Benefício potencial: se houvesse um pico de intrusão exatamente no momento certo, airbags laterais/cortina poderiam reduzir trauma craniofacial e risco de ejection.


·         Riscos potenciais em um rollover prolongado: deflagração em momento “aleatório” durante capotamento poderia causar abrasões, interferir em evacuação imediata ou até agravar contatos entre ocupante e interior já deformado.


·   Balanço prático: no cenário analisado, a não-deflagração não representa, necessariamente, falha — e os cintos + célula de sobrevivência foram determinantes para a preservação da vida.


7 — Papel dos cintos e da célula de sobrevivência


Os cintos de três pontos e a rigidez da célula (habitáculo preservado) são os guardiões primários. Em muitos incidentes, é a integridade da célula e o uso correto do cinto que determinam sobrevivência, especialmente em capotamentos e eventos com múltiplos contatos.


8 — Evidências de campo e literatura (por que nossa conclusão é robusta)


Estudos e diretrizes internacionais (NHTSA, SAE, normas de crashworthiness) documentam que airbags não se destinam a disparar em todos os tipos de colisão.


Relatórios sobre impactos oblíquos e rollovers mostram que, frequentemente, o perfil de aceleração desses eventos não aciona os algoritmos. Isso reforça a interpretação do laudo técnico e das simulações informais executadas por especialistas consultados.


9 — Mensagem prática para motoristas e engenheiros


·        Não confunda “não disparo” com “falha” automaticamente; analise a dinâmica.


·        Cinto sempre: é o elemento mais importante.


·        Em capotamentos, proteção estrutural e corretos sistemas de retenção salvam vidas mesmo sem deploy de airbags.


·        Para questionamentos formais (judiciais) é imprescindível ter EDR ou exame físico do módulo — sem isso não há “certeza matemática”.


10 — Conclusão


No caso analisado, com base em documentação, dinâmica e princípios de SRS, a explicação técnica mais coerente é que o evento não apresentou o perfil físico requerido para deflagração dos airbags.


Essa conclusão está alinhada com estudos de campo e práticas de projeto de sistemas de segurança veicular. A hipótese de dano elétrico é reconhecida como possível, porém, pelos elementos disponíveis, improvável como causa primária.


11 — Referências recomendadas (leitura adicional)


·         NHTSA — Vehicle Air Bags and Injury Prevention (portal informativo).

·         NHTSA — Advanced Air Bag Technology Research (relatórios técnicos).

·         SAE J211 / J2470 — documentos sobre instrumentação e testes de impacto.

·    FMVSS 208 / 214 — regulamentos de retenção e impacto lateral (leitura para comparação normativa).


F.B. Faria Soluções em Engenharia

Excelência Técnica, Ética e Responsabilidade em cada perícia.


Palavras-chave:

Engenharia Mecânica, Perícia Judicial, Ética Profissional, CREA, CONFEA, Responsabilidade Técnica, ART, Case Técnico, Engenharia Legal, Airbag, SRS, Airbag Lateral, Airbag de Cortina, Airbag não deflagrado.


 
 
 

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